2007/07/11

FILATELIA

Selos Portugueses emitidos pelos CTT - Correios de Portugal, SA, em 2007
15 de Fevereiro


EM BUSCA DA LISBOA ÁRABE

Em 711, os Árabes, comandados por Al-Tarik, cruzaram o estreito que, mitologicamente, Hércules abriu para ligar o Mediterrâneo ao Atlântico e invadiram o Reino Visigótico de Toledo, que se estendia até à presente costa portuguesa. Um dos seus filhos, Abdelaziz ibn Musa, liderou a conquista do Gharb Al-Andalus (o ocidente do Al-Andalus, designação árabe da Península Ibérica), tomando al-Ushbuna, cidade na foz do Tejo fundada pelos Fenícios por volta de 1200 a. C. Depois do declínio provocado nos três séculos anteriores por razias e pilhagens, a actual Lisboa renasce como grande centro administrativo e comercial, na rota do tráfego marítimo Sul-Norte. Estima-se que no séc. X teria 100 mil habitantes, quando Paris e Londres tinham entre 5 e 10 mil.
Concomitantemente, a cidade é reconstruída e renovada de acordo com os padrões do Médio Oriente. É edificado um castelo - que está na origem do actual castelo de S. Jorge -, uma alcáçova (palácio) para o governador, um alcácer, fortificação muralhada envolvendo a almedina ou centro urbano. Na sequência desse progresso, cresceu o bairro de Alfama, adjacente ao burgo original.
Entre os séculos IX e X foi construída uma grande mesquita vermelha, arrasada em 1147, aquando da tomada de Lisboa por D. Afonso Henriques. Comprovadamente, o rei Fundador erigiu sobre as suas ruínas a igreja matriz da cidade, que seria elevada a catedral metropolitana por D. João I, em 1393.
Como a religião muçulmana não consente a representação de seres animados, as artes plásticas árabes mais fecundas são a Caligrafia, o Arabesco - ornamentação não figurativa - e a Arquitectura. Assim, são deste âmbito a maior parte dos vestígios existentes em Lisboa da presença islamita, sendo ela mesma a fonte inspiradora do estilo revivalista neo-árabe que caracterizou, sobretudo na viragem do séc. XIX para o séc. XX, alguma arquitectura de gosto oriental.


28 de Fevereiro

TRAJES REGIONAIS PORTUGUESES
O Homem é um reflexo do meio que habita, o qual, por seu lado, espelha a intervenção daquele. Esta relação dialéctica tem uma expressão significativa no jeito de estar e de viver das populações, particularmente, no seu modo de trajar. País atlântico e mediterrânico - na arguta caracterização de Orlando Ribeiro -, montanhoso a norte e de peneplanície a sul, "bordado de mar", como disse Torga, nele coexistem distintos modos de exploração dos recursos naturais e, portanto, diferenciados trajes de trabalho, de festa ou de cerimónia. Nas romarias, a lavradeira do Minho, província bem irrigada e de boa aptidão agrícola, gosta de mostrar-se com roupa vistosa, de pôr lenços coloridos e ostentar o seu aforro de filigranas de ouro. É o chamado traje à "Vianense", que apresenta alterações de algumas aldeias para outras. No casamento, a noiva minhota traja de preto e com o peito repleto de ouro: Na cabeça leva véu ou bobinete branco e segura na mão um ramo de laranjeira com um lenço branco.Nas serranias do interior minhoto, nas Terras de Barroso e no planalto transmontano - onde se vivem dez meses de Inverno e três de Inferno - a terra é mais madrasta. Predomina a cultura de cereais pobres, como a aveia e o centeio, com algum milho, a par da pastorícia de gado bovino e caprino. A roupa, de tecido de lã pisoado, é mais sombria. Prevalece o burel castanho ou cinzento escuros. A mulher usa uma capa-capuz de saragoça que a cobre da cabeça até ao meio das pernas. Eles e elas, nas ocasiões especiais, vestem blusas e camisas alvas de linho bordadas.Muito peculiar é a região de Miranda do Douro, onde se fala e aprende o dialecto mirandês e os homens bailam a Dança dos Pauliteiros. As origens deste folclore são incertas e as opiniões divergem. Para o Abade de Baçal, as saias curtas e enfeitadas, os chapéus ornamentados, as tiras de linho e os lenços multicolores dos trajes actuais são uma estilização das fardas dos soldados greco-romanos e a coreografia dos lhaços remete para a dança pírrica grega, em que os intervenientes se colocavam em duas filas, com armas e escudos de pau, e simulavam o ataque e a defesa numa batalha. Emblemática é também a Capa de Honra mirandesa. Traje talar, de burel, pode ser veste dos boieiros - menos perfeita e menos cuidada - e indumentária de festa - mais ampla, mais trabalhada. Em ambas, do decote nasce a capa, a sobrecapa e o capuz. A capa é comprida e ampla, cortada em viés, aberta na frente. A sobrecapa desce até à zona do cotovelo. Bordada e pespontada, é rematada por franjas largas. O capuz, com capeto, inteiramente bordado, termina numa larga faixa, denominada Honra, cujo tamanho varia consoante a riqueza e importância social de quem a enverga. Também é bordada, pespontada e ultimada com uma franja.A sul do Alto Douro, estende-se a Beira Interior, a Alta e a Baixa, até ao Tejo Superior e Transfronteiriço. A paisagem é marcada pelas cadeias montanhosas, orientadas de noroeste para sudeste, como as serras de Montemuro, da Gralheira e do Caramulo; as serras da Estrela, da Lousã e de Montejunto e a serra da Gardunha. Nestas províncias do Centro Interior, só 15 por cento da terra é arável, ponteada aqui e ali por pequenas bolsas onde é possível arrotear 30 por cento da área. Como sublinha Gonçalo Ribeiro Telles, em "Raízes" (http://raizes.blogs.sapo.pt/), -Há muito que a pastorícia, e não a floresta, domina a Serra da Estrela. Por esse facto, o heróico Viriato, símbolo da resistência às legiões romanas, era um pastor.» Provavelmente ele e outros que apascentavam gado deviam proteger-se da chuva e da neve vestindo por cima da roupa uma croça (do latim crocea) constituída por uma capa e uma sobrecapa tecidas de palha, utilizando técnicas de cestaria e que terá surgido no Neolítico (12 000 a. C. - 4000 a. C.). Já a caroça é composta por cabeção e "saia" de junco, dispostos paralelamente no sentido longitudinal, amarrados entre si por um fio entrelaçado. Por vezes, o homem utiliza polainas, enrolados nas pernas, feitas do mesmo material e interligadas com as restantes peças. O traje é completado por um chapéu de feltro preto e tamancos de couro de cor natural com sola e tacão de madeira. Existem ainda alguns modelos em que tem a forma de uma capa com capuz, apoiando-se directamente sobre a cabeça do seu utilizador. Sendo um vestuário prático, de confecção fácil, rápida e barata, perdurou quase até à actualidade. O litoral a sul de Setúbal é pouco povoado e quase não tem portos de abrigo naturais. Para norte, até Caminha, pelo contrário, a costa está pontuada de inúmeras vilas piscatórias e os trajes são muito variados. No Douro Litoral sobressai a camisola poveira, do pescador da Póvoa de Varzim, cor de lã, ornamentada com siglas poveiras "hieroglíficas", que funcionam como um sistema de comunicação visual simples. Na orla marítima da região meridional vizinha, a Beira Litoral, o pescador usa ceroulas e camisa de flanela de diferentes cores, sendo a camisa de desenhos com quadrados estampados e de cor garrida, faixa de algodão e carapuça de lã pretas, meias grossas e tamancos. E, entre estes, o homem pescador da Nazaré veste, igualemente, camisa aos quadrados, mas usa calça lisa, quase sempre de cor preta e um barrete típico.Também a mulher da Nazaré se veste no dia-a-dia de forma deveras original, sobressaindo em qualquer contexto. Nazarena é sinónimo de mulher de sete saias. Desconhece-se, em rigor, a origem deste uso antigo. Sete saias coloridas, segundo a lenda, por serem sete os dias da semana e sete as cores do arco-íris. Ou porque o número sete está carregado de superstições. Também se diz que surgiu por necessidade: quando os pescadores andavam na faina, as mulheres esperavam-nos sentadas na areia, envoltas nas suas saias que as protegiam do frio e da maresia que se fazia sentir pela madrugada. Por cima delas, põem um avental colorido. Nos vales do interior, os camponeses, nas ocasiões especiais, trajam jaqueta de saragoça, como botões de fantasia, camisa branca, de colarinho baixo, cintada por uma faixa encarnada, enrolada com perícia. Quando a Alta Estremadura interior se estende para sul, começa o Ribatejo. Aqui as mulheres do meio rural calçam sapatos de couro não tingido, meias grossas e três ou quatro saias até meio das pernas. Para trabalhar, arregaçam a de cima, melhor que as outras, e enrolam-na de um jeito próprio. Da indumentária do homem das lezírias e das campinas - o campino - fazem parte: calção azul, colete encarnado, barrete verde, camisa branca sem colarinho, meias brancas de canhão bordado e sapatos pretos com saltos de prateleira onde entram as esporas presas a correias afiveladas, que o ajudam a dominar o cavalo, seu instrumento de trabalho, a par da vara. Na sua lida de vaqueiro, veste-se do mesmo modo, embora menos aperaltado. Para ocidente, a norte da foz do Tejo, fica a região saloia que durante séculos abasteceu a capital. A saloia traz blusa de chita ou riscado, muito justa na cintura, e saia de roda até ao cano da bota de botões. À frente, ata um alegre avental bordado. O seu parceiro não dispensa a cinta preta, franjada nas pontas, e o carapuço de borla. Como refere Cristina L. Duarte no livro Trajes Regionais - Gosto Popular, Cores e Formas, editado pelos CTT, -No Alentejo há duas peças que sobressaem: a "manta alentejana", tecida de listas coloridas, que usavam os pastores traçada ao ombro, e o "capote". Este desce até ao chão e possui uma gola, em regra de pele de raposa. Tem uma ou duas romeiras sobrepostas até à cinta. Pode ser de mescla, briche (tecido de lã semelhante à saragoça, mas mais fino) ou burel.

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