2010/10/31

Campos e Holowczyc garantem títulos em Portalegre

Kryzstof Holowczyc, na Taça FIA de Bajas
e Filipe Campos,
no
Campeonato Nacional,
acabam por ser os pilotos com maiores motivos
para fest
ejar no final da 24ª edição da Baja BP Ultimate Portal
egre 500

Numa prova realizada debaixo de difíceis condições atmosféricas como foi a 24ª edição da Baja BP Ultimate Portalegre 500, o piloto polaco Kryzstof Holowczyc e o português Filipe Campos acabaram por ser os grandes vencedores da jornada já que o primeiro alcançou a vitória na prova, o que lhe permitiu vencer a Taça FIA de Bajas, naquele que foi, ainda, o seu primeiro triunfo em Portugal. Por seu turno, o piloto luso alcançou um dos seus principais objectivos que era o de garantir a conquista do terceiro título consecutivo, e quarto na carreira, de Campeão Nacional de Todo-o-Terreno.

A tarefa de todos os pilotos foi dificultada pela muita chuva que se fez sentir ao longo da prova, mas nem essa circunstância retirou qualquer brilho a mais esta edição da mítica prova alentejana.

Krystof Holowczyc partiu com oito pontos de desvantagem sobre o russo Boris Gadasin e as coisas nem pareciam correr de feição para o piloto da Nissan Navara, pois Miguel Barbosa, que alinhava precisamente com o mesmo objectivo, começou por dominar o prólogo para se impor depois no primeiro sector selectivo do segundo dia de prova, ampliando a sua vantagem na frente da classificação. No entanto, a mecânica do Mitsubishi não colaborou e Miguel Barbosa acabou por partir a correia do alternador, ficando sem carga de bateria e sendo, por isso, obrigado a desistir.

Com Filipe Campos atrasado no SS2 com um furo e imprimindo um andamento mais tranquilo a partir do momento em que Barbosa parou, Holowczyc acabou por ascender ao primeiro lugar e, com a desistência de Gadasin - problemas de pressão de combustível - conquistou um merecido sucesso que lhe garantiu a conquista da Taça FIA de Bajas.

“Foi incrível esta tarde", começou por afirmar Holowczyc. "Nunca tinha visto tanta água na vida. Parece que entrámos numa poça de água no início da especial e saímos no fim. Era muito fácil cometer um erro. Era um sector para quem tem sensibilidade, uma vez que não era fácil perceber onde era o limite. A organização foi perfeita, tenho feito muitas corridas e nunca vi um road-book tão perfeito, só não conseguem controlar o tempo. Estou muito contente com esta vitória", resumiu o piloto polaco.

Quanto a Filipe Campos, confirmou em pleno o favoritismo que lhe era atribuído à partida da prova e, com o segundo lugar final, revalidou justamente o título nacional que ostentava: “Esta tarde foi muito difícil. Entrava água por todo o lado e o pára-brisas deixou de funcionar e por isso o Jaime (Batista) tinha que ir sempre a carregar no botão. Foi muito complicado, mas cumprimos o objectivo que tínhamos que era revalidar o título e por isso estamos muito satisfeitos. Sabíamos que este percurso da tarde faz menos lama, mas que acumula muita água, mas nunca tinha visto nada assim”.

Nota ainda para a excelente a actuação do espanhol Joan Roca Vila, que levou a sua Mitsubishi ao último lugar do pódio, enquanto o já campeão da categoria T2, Ricardo Porém, confirmou o título com mais uma vitória no agrupamento, depois de Nuno Matos ter liderado durante bastante tempo antes de ser eliminado numa tentativa de ultrapassagem a Pedro Grancha. O piloto de Cascais seguia por essa altura com problemas, e os dois carros acabaram por se tocar, provocando uma situação em que a ponteira de direcção do Isuzu de Nuno Matos acabaria por ceder.

Terceira vitória para António Maio

Nas motos, o prematuro abandono de Ruben Faria e o atraso de Paulo Gonçalves fez com que a luta pela vitória fosse uma discussão entre António Maio e Mário Patrão. Na fase inicial, o piloto da Yamaha teve dificuldade em encontrar o melhor ritmo e chegou ao CP1 a perder 21 segundos para Patrão. Depois os pilotos das duas rodas entraram numa zona do percurso em que o piso estava já bastante deteriorado pela passagem dos automóveis, e aí Maio conseguiu aumentar o ritmo e inverteu a classificação, passando para a frente por apenas dois segundos quando faltavam cerca de 90 quilómetros para o final. A partir daí foi sempre ao ataque, vindo António Maio a beneficiar dos problemas de Patrão na sua moto para alargar a vantagem e vencer a corrida.

No final de mais esta edição da Baja 500 Portalegre, António Maio estava bastante satisfeito: “Foi uma corrida difícil. Não me consegui encontrar na fase inicial, os braços incharam um pouco e estava com dificuldades. Depois quando entrei na zona do percurso em que os pilotos do carro já tinham passado, ataquei. O piso estava muito estragado, ainda caí, mas na chegada à assistência 4 apanhei o Mário Patrão e a partir daí vim sempre a fundo. Foi uma corrida dura e difícil, mas estou muito contente por ter ganho”.

De referir que António Maio inscreveu pela terceira vez o seu nome na lista de vencedores - depois de ter ganho em 2007 e 2008 e ser segundo no ano passado. Por seu turno, Mário Patrão até começou por comandar mas, na parte final, teve problemas de travões e não conseguiu resistir ao forcing de António Maio. “Foi uma boa corrida, difícil, com zonas com o piso já muito mau. Foi pena ter ficado sem travões na parte final, o que fez com que caísse duas vezes e por isso optei por controlar o andamento e terminar em segundo, que acaba por ser um bom resultado”, disse.

Paulo Gonçalves, outros dos pilotos que recolhia algum favoritismo à vitória no início da prova, abandonou a cerca de 50 Km do final, quando era um confortável terceiro classificado, com problemas eléctricos na sua BMW. Deste modo, David Megre fechou o pódio, mas já a mais de 23 minutos dos dois da frente, demonstrando que o ritmo de quem lutou pela vitória era claramente outro.

In, http://www.lusomotores.com/content/view/8278/1/

CLASSIFICAÇÕES

AUTOS – MUNDIAL FIA DE BAJAS

Classificação Final

1º. Krysztof Holowczyc/Jean-Marc Fortin (Nissan Navara Overdrive)(POL) 5h40’08’’

2º. Filipe Campos/Jaime Baptista (BMW X3) (PRT) 5h48’42’’

3º. Joan Roca Vila/Josep M.Ferrer (Mitsubishi L200)(ESP) 5h59’32’’

AUTOS –NACIONAL DE TODO-O-TERRENO

Classificação Final

1º. Paulo Ferreira/Jorge Monteiro (Toyota Land Cruiser)(PRT) 7h16’04’’

2º. Tiago Avelar/Silva Santos (Nissan Proto)(PRT) 7h24’01’’

3º. Joaquim Calado/Sérgio Calado (Nissan Terrano I)(PRT) 7h41’04’’

MOTOS

Classificação Final

1º. António Maio (Yamaha YZ 450 F)(PRT) 4h24’00’’

2º. Mário Patrão (Suzuki RMX-Z)(PRT) 4h25’30’’

3º. David Megre(KTM EXC 450R)(PRT) 4h47’54’’

QUADS

Classificação Final

1º. Roberto Beto (KTM 525 XC)(PRT) 5h00’52’’

2º. João Lopes (Suzuki LTR 450 Z)(PRT) 5h16’32’’

3º. Humberto Pinto (Suzuki LTR 450)(PRT) 5h31’37’’

BUGGYS

Classificação Final

1º. Carlos Esteves/Helder Amado (PolarisRZR765)(PRT) 6h55’29’’

2º. Tiago Cunha (RageR140T)(PRT) 7h13’29’

3º. José Vitória/Luis Vitória (PolarisRZRS)(PRT) 7h44’23’’’

2010/10/25

CREPÚSCULOS III


E vai mais um copo ?!

E mais outro que se esvai, que se engole num trago,
um banco vazio a um canto,
um cigarro aqui pisado,
outro repisado, outro ainda mal queimado que tresanda,
pálpebras cerradas. Não! Semi-cerradas.
Damas ignóbeis, famintas,
risos e chôros abafados. Talvez ais!
Versos brancos, ôcos,
olhos ardentes,
molhados,
inchados,
prazeres num vómito,
um gaz de escape descuidado.
Alvos translúcidos, (qual fantasmas),
acrobatas bailando
num arame imaginário.
Carnaval de ocasião,
gigantones, ilusão,
miséria franciscana,
intelectuais de pacotilha,
olhos nos olhos, sorrisos cínicos,
sujas a unhas, elegantes esqueletos,
trapinhos novinhos
alugados na esquina.
Mazelas antigas,
lutos e lutas,
bebidas baratas,
venenos letais,
ratos de esgotos,
gatas surradas
nas esquinas do mundo.
Tudo mas tudo
p'ro esquecimento.
Numa edilidade que cresce,
mas ao contrário,
a penumbra da hibernação
paira num ar fétido
das migalhas e esmolas dos outros.

Observo-os de perto... ou de longe...
esvaindo-se... incrédulos...

E vai mais um copo ?! Talvez um cigarrito!

João Belém
2010-10-25

CREPÚSCULOS II


Musas do idealismo entrem nos meus ouvidos.
Pairem no silêncio do quarto escuro,
revolvam-me o sossego
devolvam-me os sorrisos,
gozem a minh'amargura desmesuradamente.
Vá lá! A noite está a cair!
O dia que virá é célere.
Façam qualquer coisa que cesse esta minha calma barata.
Escrevam algumas letras neste verso branco que é a noite,
soletrem no ar que sopra.
Sou eu que estou aqui.
Quantas vezes falo alto,
queimando os ouvidos dos outros surdos,
ôcos de desejo, mas tão libertos que magoam minh'alma.
Vá lá! A noite cai reconfortante!
Alguém invente um símbolo da sorte
que não seja prece ou verdade fútil.
Que não tenha crenças nem ideias loucas.
Neste quarto de silêncios de paredes nuas,
as frustrações perduram envolvidas no gesso branco,
ou será cal, apagada, crua, nua...
Vá lá! O ruído incessante da noite perturba o sôno,
que teimosamente se recusa a entrar.
Talvez encontre um sonho bom de azul metálico,
que me embale o corpo
e com a noite que resta... vou sobreviver...

João Belém
2010-10-25

2010/10/22

230 Inscritos


A poucos dias da 24ª Baja BP Ultimate Portalegre 500 2010 ir para a estrada, a organização já divulgou alguns números que deixam antever um grande fecho de época para todos os campeonatos que aqui irão ter a sua última prova. Nos automóveis estão inscritos 75 concorrentes, dividos por todas as classes, sendo aqui o destaque para a luta pelo título da Taça FIA de Bajas na Cat T1 com o Polaco Holowczyc a fazer frente a Boris Gadasin em Proto G-Force. Pelo lados dos Portugueses Filipe Campos tem em teoria a sua vida facilitada para renovar o título, mas convém nao esquecer que para depois do fim seja o primeiro, tem que primeiro chegar ao fim, e caso algo aconteça ao piloto do X3, José Dinis Lucas poderá a vir a sagrar-se campeão. Nos T2 as coisas estarão em teoria mais calmas, pois os títulos quer o nacional quer o da FIA já estão entregues, a Ricardo Porém e a Nuno Matos respectivamente. No entanto, será muito interessante seguir a luta entre estes dois, já que tudo leva a crer que ambos quererão fechar o ano com chave de ouro. Nas motos, apesar da Baja Portalegre 2010 já não contar para o campeonato, a atracção em torno desta prova continua a ser maior do que em qualquer outra , e disso é bem representativo o número de 75 inscritos. Já os quads e os Buggys / UTV's terão aqui também o fecho da temporada, e também nestas classes se regista uma adesão importante de pilotos. Nos quads estão inscritos 60 concorrentes, e nos Buggy/UTV 21. A Baja Portalegre irá assim acolher um muito interessante número de 230 concorrentes, o que levando em linha de conta a situação económico-social acaba por ser um feito digno de registo e demonstra que a clássica do norte alentejano continua a ser a referência nacional, e até internacional. A prova está marcada para o final do mês, com o dia 28 a ser destinado às verificações técnicas e documentais. A competição a sério começará no dia seguinte, com a disputa da super especial para todas as categorias presentes. No sábado dia 30 será o dia grande da Baja, com os concorrentes auto a terem pela frente 2 sectores selectivos, enquanto as motos irão ter apenas 1 disputado em linha.

In, http://todoterreno.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2719:230-inscritos-na-baja-portalegre-2010&catid=1:noticias-auto-nacional&Itemid=2
Foto - In, http://www.heraldo.es/noticias/detalle/la_baja_ruge.html

http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&cd=4&ved=0CB8QFjAD&url=http%3A%2F%2Fwww.bajaportalegre.com%2FHandlers%2FfileHandler.ashx%3Fpath


2010/10/20

CANSAÇO...


Neste secreto silêncio,
a badalada do tempo ressoa
no quarto semi-obscuro.
O cerrar dos olhos
completamente estenuado
depreende um corpo cansado.

Estaca...
distende-se... ao longo do colchão de pedras...

e ressonha...

João Belém
20-10-2010

2010/10/19

MEMÓRIAS 12



LICEU NACIONAL DE PORTALEGRE

Antigos alunos do Liceu Nacional de Portalegre, lembram-se das dossier's?? Únicos!!!

2010/10/13

24ª. BAJA ULTIMATE PORTALEGRE 500

Por enquanto ainda não foi divulgada qualquer lista de inscritos, mas sabe-se que serão vários os pilotos estrangeiros que irão comparecer nesta prova, casos de Boris Gadasin e Bogdan Novisty da G-Force Motorsport, e de Krzysztof Holowczyc já apresentado como piloto da X-Raid, mas ao que tudo indica virá com a Nissan Navarra Offroad que tem utilizado. Este trio virá até Portugal discutir o título da Taça FIA de Bajas, não se avizinhado no entanto tarefa fácil para nenhum deles. Quem também já confirmou a sua presença foram os estreantes Erik Korda e Pal Lonyai. È muito provável que até à data da prova mais alguns nomes "grandes" do TT europeu se venham a inscrever, pois disso já demonstraram interesse.

Pelo lados dos Portugueses estarão presentes todos os pilotos habituais do CPTT, e só para citar alguns: Filipe Campos, Miguel Barbosa, Bernardo Moniz da Maia na categoria principal. Actualmente as probabilidades jogam a favor de Filipe Campos, que ao que tudo indica irá renovar o título de campeão nacional em Portalegre, mas numa prova com as características desta os imponderáveis são sempre uma sombra a pairar sobre as equipas, e o piloto do X3 terá que acima de tudo preocupar-se em chegar ao fim, caso contrário a sorte poderá sorrir a José Dinis Lucas, uma vez desde que este termine num dos lugares da frente da prova poderá em teoria conquistar o campeonato, no entanto, convém resalvar que ainda assim não será nada simples.
Quanto os Portugueses mais rápidos resta ainda saber se Ricardo Leal dos Santos participará, e que caso o venha a fazer com que carro se irá apresentar à partida, se com o seu X5 ou se com o X3 da sua nova equipa - a BMW X-Raid.

Nos T2 è também de prever que compareçam bastantes equipas, com todos os pilotos que regularmente participam nas provas a marcarem presença em Portalegre, onde se destaca Ricardo Porém - que se sagrou campeão da categoria em Castelo Branco, e Américo Antunes, - vencedor da classe também em Castelo Branco. Os T2 terá ainda como foco de interesse, a presença já campeão da Taça FIA de Bajas Cat - T2 , Nuno Matos, que já afirmou que mesmo com o título garantido, tem ambição de conseguir aqui um bom resultado.

A Categoria T8 deverá ser aquela que irá uma lista mais recheada em comparação com as restantes provas do CPTT, pois várias equipas escolhem esta como uma das poucas ou mesmo como a única prova em que participam.

Portalegre é um evento ímpar no panorama do todo o terreno em Portugal, e è prova disso o enorme interesse acerca do mesmo, ainda a mais de um mês da data em que irá para a estrada. Há muitos anos que é este evento que consegue reunir as maiores listas de incritos, e também o que mais público acolhe na beira da pista para assistir à passagem dos concorrentes, e neste momento tudo leva a crer que este ano a história irá uma vez mais repetir-se.

In, http://todoterreno.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2680%3Abaja-portalegre-campeonatos-em-hora-decisiva&catid=72%3Abaja-portalegre-2010&Itemid=313

Foto de Boris gadasin, in http://www.rallybuzz.com/northern-forest-baja-2009-2/

Foto de Filipe Campos, in http://bussola.blogs.sapo.pt/75105.html

Foto de Nuno Matos, in http://formularali.wordpress.com/category/regional/tt/taca-internacional-fia-de-bajas/

2010/10/12

MEMÓRIAS 11


LICEU NACIONAL DE PORTALEGRE

Antigos alunos do Liceu Nacional de Portalegre, lembram-se das t-shirt's?? Fantásticas!!!

2010/10/08

UMA VIDA, UMA FICHA


João Silva e a mulher vivem no Montijo. Ele trabalha em Lisboa, a mulher é funcionária da autarquia e fica na localidade onde habita. Vamos deixar para já a mulher, e a filha de cinco anos, na sua terra e na sua vida, e acompanhemos João Silva num dos seus dias.

João Silva vive no Montijo porque a Ponte Vasco da Gama existe e ele encontrou lá melhores condições para comprar o seu apartamento e pagar o seu empréstimo à habitação. O banco pediu-lhe imensos papéis e ele contou ao banco sobre o que ganhava, a sua saúde, a sua família, o seu emprego. Tudo normal. João Silva até é um homem moderno, não acabou o seu curso numa universidade privada, mas há-de acabar. Há-de ser advogado, ou melhor, jurista. Não será assim tão difícil e ele, que já é um homem do seu tempo, justificou a casa no Montijo por razões "ecológicas", o Tejo, o campo, etc., etc.

João Silva faz um bocado de auto-estrada e a ponte. Hoje atrasou-se, mas também já há menos trânsito. Acelera um pouco e o seu carro foi fotografado pela polícia. Foi também observado por uma câmara que controla a auto-estrada. Bom, mais uma multa. À chegada às portagens, travou muito. Ele leu nos jornais que a polícia agora vai controlar os tempos de passagem entre as portagens e a hora a que passou fica registada na Via Verde. O parque de estacionamento que vai usar no Parque Eduardo VII (João é funcionário num dos tribunais do Palácio da Justiça) tem também Via Verde e regista o tempo da sua entrada e o da sua saída e a matrícula do carro. Normalmente ele estacionaria em cima de qualquer passeio, mas hoje está atrasado.

De passagem, verifica que tem pouco dinheiro e tem uma "coisa" combinada com uns colegas para o fim da tarde, e precisa de ter algum dinheiro. No Multibanco levanta dinheiro e corre para o emprego, "pica" o ponto que regista a sua entrada e o seu atraso. Está a ser um dia negro, uma multa, um atraso tão evidente. João Silva começa pela primeira vez a pensar na sua classificação como funcionário. Mas João Silva é conhecido como homem de esquerda, já tivera simpatias pelos comunistas e agora vota ou no PS ou no BE e a mulher é mesmo socialista "de cartão". O seu chefe subiu a chefe com os socialistas no governo e não deixará de proteger os "seus", agora que os PSD estão na mó de baixo. Antes mandavam "eles", agora mandamos "nós". As quotas de "muito bons" até devem chegar para si, enquanto as coisas não mudarem. Por isso, vocifera contra esta campanha vergonhosa que o Belmiro está a fazer com o diploma do engenheiro Sócrates. "Eles" querem "é vir outra vez ao de cima". Isso não o impede de fazer circular no seu e-mail mais um vídeo do YouTube com umas graças dos Gato sobre o curso e os papéis bizarros do primeiro-ministro. "Então não somos um país livre?" Somos, claro.

Senta-se à sua secretária e vai ler os jornais, os desportivos e os do serviço, que foram três (tivera um chefe em tempos de vacas gordas que achava que o serviço devia comprar o Correio da Manhã, o Público e um diário económico), mas agora só há o Correio da Manhã. Entre o jornal que já lhe chega quase desfeito, alguém cortou um cupão para um concurso, outro roubou a página do sudoku, e a Internet, ele lê distraído uma notícia sobre a criação de uma base de dados de perfis de ADN "ao serviço da investigação criminal" com "dados de pessoas condenadas a penas de prisão iguais ou superiores a três anos", a que se soma "um ficheiro para dados de investigação civil (...) "alimentado" por voluntários que quiserem depositar ali os seus dados pessoais". Ele acha muito bem e passa adiante. João Silva, quando chega à hora do almoço, já deixou os seus dados em fotografia, vídeo e em várias bases de dados da polícia, do Multibanco e do Estado. Daqui a uns dias, com as novas câmaras de videovigilância que António Costa quer instalar em Lisboa se ganhar as eleições, vai ser filmado na rua várias vezes.
Costa tem uma longa tradição de introdução de instrumentos de vigilância. Veja-se esta notícia no Diário de Notícias de 26 de Setembro de 2005:


O Governo vai aprovar amanhã a utilização do sistema de vídeo-vigilância nas estradas portuguesas para efeitos de fiscalização rodoviária. O decreto-lei será aprovado em Conselho de Ministros e deverá entrar em vigor antes do final do ano, confirmou ontem António Costa. O ministro da Administração Interna anunciou ainda que a PSP e a GNR vão receber novos equipamentos para uma maior eficácia na fiscalização dos condutores, nomeadamente computadores que permitem aceder ao cadastro do condutor e a inserção directa da multa no sistema da Direcção-Geral de Viação (DGV).


Até ao final do ano, as forças de segurança vão poder utilizar os dados captados por sistemas de vigilância para multar os condutores que infringirem o Código da Estrada. Segundo António Costa, o sistema vai funcionar através da "rede de câmaras instaladas nas estradas portuguesas, que permitem monitorizar o que acontece na via. Esse equipamento permite detectar algumas infracções e outras não, mas as que forem detectadas serão autuadas. Estas imagens terão o mesmo valor probatório da visão directa de um agente da autoridade", garantiu.

Fez também uns telefonemas com o telemóvel, devidamente registados numa base de dados, e andou pela Internet...
O tipo de informação existente nas bases de dados dos serviços telefónicos pode dar uma ideia do seu potencial para vigilância. O serviço de facturação detalhada da TMN fornece os sequintes dados:


- Data e hora das chamadas efectuadas

- Data e hora da chamadas recebidas (quando em Roaming)

- N.º chamado

- Duração e custo das chamadas

- Tipo de serviço: Voz, Fax, Dados, Sms, transferência de chamadas, etc.

- Código do operador (quando em Roaming).
O seu computador, ligado a um servidor do Ministério da Justiça - não esqueçamos que ele é funcionário judicial -, regista todo o seu "passeio" pela Internet, os seus e-mails, incluindo as graçolas ao primeiro-ministro, a leitura de um sítio sobre desporto, uns blogues "engraçados", e, em particular, um blogue anónimo, A Chama da Justiça, que ele sabe que é feito por um funcionário da sala ao lado e que tem uns boatos e umas "revelações" sobre os seus chefes. João Silva, que assina uns comentários anónimos com o nickname de "Leão Castigador", costuma deixar lá umas frases pouco abonatórias sobre os seus colegas e umas "revelações" de sua lavra sobre quem anda com quem. Quando assina "Castigador", fica feliz com a sua obra. Com os colegas homens e a cumplicidade sorridente das colegas mulheres, vão todos os dias religiosamente ver as "gajas" ao Hi5 Porcas, onde ele já tinha encontrado as fotos de uma vizinha com as amigas numa discoteca de Almada. Tudo como deve ser, e é, em milhares de escritórios públicos e privados.

Com os amigos, vai almoçar e combinam ir depois do emprego "beber uns copos" a uma espécie de bar que tem striptease. Ele pensava que essas casas só funcionavam à noite escura, mas descobriu que não muito longe dali, em Campolide, o fim da tarde era animado pelo tropel de funcionários e uns jovens yuppies duns escritórios, que iam divertir-se numa espécie de alterne mitigado num bar com música muito alta, onde batiam com as mãos nas costas uns dos outros, diziam umas piadas e bebiam uns uísques. Nada que multidões de homens sós não fizessem desde os tempos das legiões romanas. Só que, pensando bem, tinha que pagar a dinheiro, porque a mulher podia ver as despesas do bar no cartão de crédito e já basta de maçadas.

À saída, já vai um pouco mais feliz, mas há que voltar ao Montijo, o que o torna mais infeliz. Dá por si a dar razão mental ao ministro Mário Lino, aquilo de facto é um deserto e eu quero lá saber do Tejo e do campo para alguma coisa! Fica contente por ser "politicamente incorrecto" durante uns segundos, talvez abra um blogue. Depois passa pela farmácia a comprar uns medicamentos para a asma da filha, com a receita que lhe passaram. O registo da compra fica no recibo, que irá dar às Finanças, no Multibanco, na Segurança Social, no ficheiro do médico que o passou. Todos podem saber que ele comprou aquele medicamento, e o mesmo se passava se fosse um tratamento "vergonhoso", ou a pílula do dia seguinte, ou Viagra. As Finanças, em particular, estão cada vez mais curiosas sobre tudo e "cruzam" muitos dados.

Quando João Silva volta a casa, passa de novo pela Via Verde, matrícula, local, hora e velocidade ficam registadas por comparação. As câmaras da ponte continuam a gravá-lo no caminho, até que seja o olhar da mulher, que desconfia do atraso e do vago perfume misturado com o tabaco, a gravá-lo com ainda maior intensidade. Um olhar humano é ainda mais perfeito do que o das câmaras, ela "vê" o bar do fim da tarde, com grande nitidez, mas sabe bastante menos do que o Estado. À noite, com a mulher deitada e a filha a dormir, quando ele vê um filme na sua TV Box, ele está a ser registado e fichado, mesmo que a empresa lhe prometa que não manda a discriminação dos filmes na sua factura, por razões óbvias. A TV Cabo sabe que há esposas e pais e vizinhos que às vezes apanham a carta errada.

Mas isso é para enganar os papalvos. Numa qualquer base de dados, numa qualquer ficha real ou potencial, a vida de João Silva cabe toda, em particular sexo e dinheiro, os grandes fautores da curiosidade alheia, as marcas da fragilidade, as Grandes Mentiras. O Estado sabe que todas estas coisas podem vir a ser úteis.

Um dia.

João Silva está longe de o saber.

(No Público de 26 de Maio de 2007)

*
Comentando o artigo que hoje publica no seu blogue é curioso que ainda hoje pensei precisamente nesse tema. Fui consultar junto de um quiosque num centro comercial as condições para ter televisão via ligação de internet com o meu fornecedor, e só precisei de dar o meu nº de contribuinte para a assistente do quiosque ficar a saber, sem eu lhe ter de relatar em pormenor, os dados necessários sobre a minha ligação. Se fosse no banco seria a mesma coisa, nos impostos idem, no supermercado idem, na água, na energia eléctrica, no gás, idem. Se assim não fosse teria óbviamente de perder tempos infindos cada vez que necessitasse de dialogar com qualquer organização que me fornece um serviço regular. Eles sabem o que eu sei sem precisar de lhes dizer, precisamente o que você faz aqui no seu blogue. Isto apenas para dizer que existe uma comissão nacional de protecção de dados e legislação que regulam estas coisas.

(António Fonseca)

*

Se o João Silva visse isto

http://video.google.co.uk/videoplay?docid=8372545413887273321

http://video.google.co.uk/videoplay?docid=-7849982478877371384 (episódio 2)

http://video.google.com/videoplay?docid=3291992041130722257

http://video.google.com/videoplay?docid=-121006630030775636

http://video.google.com/videoplay?docid=1343199130780182696&hl=en

(The Trap por Adam Curtis, exibido na BBC no inicio do ano)

em vez da TVCabo, se calhar também começava a pensar, mas, como se sabe, isso é um perigo para a sociedade ...

A meio do episódio 2 (min 36:50 até 46:50) podemos encontrar um dos mais demolidores ataques ao governo britânico que tenho memória, ridicularizando nomeadamente Gordon Brown, putativo sucessor de Tony Blair. Tudo isto exibido num canal secundário da BBC em horário nobre. Sintomático ...

Igualmente sintomático que se esteja a passar o mesmo em Portugal neste momento, com uma imitação barata de Tony Blair. Como é sabido, "when you pay peanuts, you get monkeys"

(Daniel Polónia)

*

Quando há uns anos optei por diminuir as operações com cartão Multibanco e não utilizar a Via Verde, fui visto como alarmista por alguns colegas, os mesmo que hoje cabisbaixos comentam “eles cruzam todos os dados”…

Mas mesmo assim há o outro lado da medalha, o lado em que o estado e suas várias faces se recusam a cruzar dados. Após morte de um familiar, vi-me face a uma parede de burocracias/obrigações que remontam ainda para o velho século XX. Descobri que, apesar de toda a máquina do estado, uma viúva, após a morte do cônjuge, só terá direito à sua pensão cerca de 4/5 meses após declarar o óbito. O dinheiro a que tem direito virá sob a forma de retroactivos, mas ninguém explica quais os meios financeiros a que terá de recorrer durante esse período.

Pasmei também ao saber que um prédio devidamente registado nas finanças, que paga o IMI devido, para mudar de dono – leia-se passar do marido falecido para a agora viúva – precisa de um longo processo burocrático que envolve levantar cópias da planta original na câmara – mesmo já havendo uma caderneta predial urbana – e que esbarra no imobilismo de uma máquina mastodôntica e ultrapassada.

Em conclusão, temos um estado que cada vez mais cruza dados para proveito próprio, e raramente para bem do cidadão. Um estado que cria serviços e taxas que o engordam, fazem aumentar os seus funcionários, e que em nada serve aos cidadãos e até os afasta de cumprir as suas obrigações.

Uma última observação: ao longo de todo este processo de transição de bens, tenho ido a bancos e a serviços camarários, levo uns papeis que ninguém lê e tenho obtido dados sobre uma pessoa e suas contas bancárias. Foi-me possível obter a planta de uma habitação particular sem que em momento algum tivesse de mostrar um simples bilhete de identidade a comprovar o parentesco, quanto mais uma certidão de óbito que justificasse os meus actos…

(E.F.)

In, http://abrupto.blogspot.com/2007/05/uma-vida-uma-ficha-joo-silva-e-mulher.html