Sinto a madrugada de mansinho. Um estranho frio que me enregela uma óssea camada de ser de homem amargurado.
Roubaram-me o sorriso. Tiraram-mo sem dó.
Lançaram-no, depois, ao vento agreste, sem lhe atar um fio sequer.
Qual cinzas arrefecidas se tratasse. Tiraram-no da ânfora de bazar onde o guardava.
A madrugada rola num passo de dança por entre um turbilhão de seres alados negros de bico aguçado, esfomeados que me acometem, com ar ameaçador.
O frio mantém-me comprimido contra a pedra de granito polido preto, no mausoléu que me encerra.
Levaram-me o sorriso, deixaram-me um vazio.
Minh’alma deambula por entre figuras e cenas ilusórias. Ludibriaram-me a alma
com palavras e promessas, risos de troça, como se de política se tratasse.
A mesquinhez das gentes está mais elaborada. Progride até à perfeição de segundo a segundo até atingir o âmago de nós próprios, manientado-nos. Acorrentam-nos em todo o corpo tal como se de um escravo se tratasse.
Sinto que rolo pela estrada da vida, penosa e sem culpa nenhuma, vasculho-a e nada vislumbro.
Por vezes, afasto a sombra do crepúsculo com os dedos dormentes e alcanço uma multidão de rostos lívidos, de risos brandos, vozes ténues.
E com este antibiótico de ocasião vou sobrevivendo neste instante momentâneo, como se terminasse tudo daqui a pouco.
2011.09.02
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