A noite consegue ser tão deliciosa e tão dolorosa!!É nela que encontro o silêncio necessário para pensar e sonhar…Ela consegue ser também dolorosa,aparece novamente a triste realidade que é ter-te somente em sonhosou por breves momentos de lucidez que sempre são bons momentos!Obrigada a Deus por eles existirem!
Ei-la, de novo!
Alguém a ouve?...
...sentado nesta cadeira
de frente para o meu computador,
numa mesa de madeira,
branca de sua cor,
eu teclo nas letras paradas
ao redor dos meus dedos...
preparo um texto,
sem contexto,
com uma textura qualquer,
talvez de amargura...
não me preocupa a forma,
nem as palavras que me vão deslizar pelos dedos
e destes para o écran
que, de vez em quando, olho prevenindo um possível erro de escrita...
não me preocupa o tema,
mesmo que sem lema
não se torna um dilema
neste plural sistema de escrever prosa ou poema...
...trata-se de fazer deslizar
apenas o teclado pelos meus dedos
e deixar sair as palavras da minha mente
numa constante busca da semente
do significado d' aquilo que estou a fazer neste momento...
e que faço eu,
nesta hora, aqui,
sozinho
e agora,
batendo lento ou apressado nas teclas do meu teclado...
olho em frente
e vejo um relógio que marca as horas lentas
que passam por mim
e que marcam o tempo de viver
a sorrir
e…
tudo e todos,
sem olhar a quem...
somente por amor...
...e que espero eu obter desse amargo doce d’alma
que sofrendo não chora,
pelo contrário,
vive e implora...
e que espero eu
senão encontrar o caminho mais leve
que me percorra o corpo
como quente neve branca
como o luar que lá fora, no céu cinzento, teima em espreitar
numa noite fria de chuva
que se aproxima do meu solitário estar...
...não percorro os corredores do dia que passou
nem choro as lágrimas que retive
dos acontecimentos que por mim passaram
como uma brisa leve
pousando no lugar onde estou
e me sinto pairar dentro do meu próprio eu...
...procuro o sentido da vida
que não encontro,
numa procura constante de mim mesmo,
na luta insana da loucura que afasto de mim
nem que seja por um instante...
...e esse instante está chegando
na forma da noite que se aproxima,
daquele estado de espírito que me anima,
pois a solidão resta a meu lado
sem um mudo som
nem qualquer grito abafado de dor...
...e aqui fico...
...esperando a noite chegar
para nela me aconchegar e aninhar...
povoar nela os meus sonhos
de aqui me sentir
e de aqui gostar de estar,
neste lado do meu mundo,
sozinho,
de dia ou de noite,
a mim próprio mentindo...
...mentindo-me em constante delírio
duma busca que ufana
luta
me provoca na mente
que, pensando, não me escuta...
...e não me oiço a pensar,
nem quero sequer isso imaginar;
oiço apenas a noite chegar
e a sua escuridão me abraçar,
sem me possuir nem me ter,
apenas me rodeando de um leve prazer
por ouvir os seus sons sobre mim verter...
...e vertem-se esses sons em pancadas surdas
de palavras mudas,
livres
e desnudas de sentido
ou de intenção...
...a noite traz paz ao meu coração...
ouvindo-a, fico sossegado
e dou a mim próprio a minha própria mão...
segurando-me para não a possuir...
para ficar aqui e não ir...
...senti-la apenas num, pequeno que seja, luxuriante som...
...ouvindo a noite,
parto para o êxtase do meu ser,
não pretendendo ver,
apenas ouvi-la...
...dentro de mim, a bater...
AM
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