2007/11/01

Gosto quando te calas




Gosto quando te calas
porque estás como ausente,
e me ouves de longe,
minha voz não te toca.
Parece que os olhos
tivessem de ti voado
e parece que um beijo
te fechara a boca.
Como todas as coisas
estão cheias da minha alma
emerge das coisas,
cheia da minha alma.
Borboleta de sonho,
pareces com minha alma,
e te pareces
com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas
e estás como distante.
E estás como que te queixando,
borboleta em arrulho.
E me ouves de longe,
e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale
com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale
também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada,
simples como um anel.
És como a noite,
calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela,
tão longinqüo e singelo.
Gosto de ti quando calas
porque estás como ausente.
Distante e dolorosa
como se tivesses morrido.
Uma palavra então,
um sorriso bastam.
E eu estou alegre,
alegre de que não seja verdade.


Pablo Neruda

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