Há uma razão pela qual os festivais de música passaram a ser conhecidos como 'festivais de Verão': em muitos casos, a música deixou de ser o mais importante. Nos últimos 10 anos, os festivais passaram a ser vistos como meros eventos sociais onde a música é apenas mais uma das atrações, ao nível da roda gigante, das selfies em grupo, das primeiras experiências psicotrópicas, dos stands de gin, ou dos infindáveis quiosques de merchandising, onde pessoas — que pagaram 60 euros por um bilhete — esperam horas por um sofá insuflável, para se sentarem confortavelmente a uma distância tão grande do palco, que só conseguem distinguir a música dos Metallica e da Ivete Sangalo pela cor que o vocalista veste. Para isso não seria melhor verem em casa a transmissão televisiva? Ao menos ouviam melhor a música, certo? Ah, pois, a música não é importante. Mas já estou a divagar.
A swaguização dos festivais é um flagelo que atacou quem lá vai por causa da música e para o qual é preciso criar uma consciencialização e sensibilização. Não raras vezes, observo que a música é já um estorvo para alguns jovens que comparecem ao engano nestes festivais. O alto volume cuspido pelas colunas do palco é uma maçada que não permite falar ao telemóvel em condições. O melhor é mesmo dizer aos Metallica para tocarem mais baixinho, para o Bernardo ouvir como estão as babes no sunset da praia das Maçãs.
Um dos maiores e mais históricos festivais portugueses até foi pioneiro e interiorizou plenamente o conceito do 'festival de convívio', alterando o seu lema para "Vens ver ou vens viver?". À partida, já está implícito que a malta não vai lá pela música. E se dúvidas houvesse, basta olhar para o cartaz para se dissiparem. Quais alquimistas, no Sudoeste perceberam a fórmula mágica para a obtenção da Pedra Filosofal dos euros: quanto pior o cartaz, maior o lucro, porque a malta vai de qualquer das formas.
E não me venham com estórias do target da música eletrónica; nomes como David Guetta, Hardwell, ou Steve Aoki, nem aos fãs de Eletrónica interessam. Eu já desisti do Sudoeste, mas o Montez que esteja descansado, que no dia em que os posers abandonarem o festival em busca da nova cena da moda, os festivaleiros voltarão a ocupar a Zambujeira do Mar. Basta fazerem um cartaz em condições.
Não quero com isto dizer que tudo é mau nesta era dourada dos festivais. A glamourização dos festivais portugueses terá começado em 2004, com a chegada ao nosso país do Rock In Rio. E não, não me vão ouvir amaldiçoar a vinda da Roberta Medina para Portugal. Primeiro, porque é uma miúda 'muito bacana' e um bom jurado televisivo (Roberta de volta aos Ídolos, por favor); depois, porque nos trouxe o Bruce Springsteen; e finalmente, porque trouxe casas de banho dignas aos festivais.
O pior é que trouxe também o público que não interessava aos festivais de música (notem o uso do termo correto): idiotas que resumem o festival a uma coleção de selfies; que vão aos festivais como se fossem à Moda Lisboa; que gritam ao telemóvel durante os concertos (especialmente irritante durante as passagens calmas da música); e principalmente — e isto é o mais importante — que passam os concertos com o telemóvel hasteado, a gravar vídeos que nunca mais irão rever e a bloquear a visão de quem está atrás. E nem me falem nos imbecis dos tablets. Por amor de Freddie Mercury, baixem a porra dos telemóveis nos concertos.
Cada um é livre de fazer o que quiser e eu não tenho nada contra quem vai aos festivais sem saber sequer as bandas que vão tocar. Pode ser que assim aprendam alguma coisa. Mas por favor, no mínimo, não se comportem como imbecis. Se eu quisesse lidar com muitos idiotas que se estão a cagar na música, ia ao Sudoeste.
Nuno Bento
(In, http://www.newintown.pt/article/o-flagelo-da-swaguizacao-dos-festivais)
1 comentário:
Obrigado pela partilha. Bom blog!
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