Se é indiscutível que o telemóvel trouxe inúmeras vantagens às
pessoas, também é certo que tem as suas desvantagens. Mas já lá vamos.
É uma grande vantagem o facto de, na ocorrência de qualquer
incidente, podermos de imediato socorrer-nos dele para chamar ou avisar alguém
e assim obter auxílio. Também não é menor conveniência o facto de estarmos
sempre contactáveis. Era uma chatice quando saíamos de casa ou do trabalho e o
telefone (fixo) ficava entre quatro paredes. Restava-nos o atendedor de
chamadas que, em caso de urgência, não resolveria coisíssima nenhuma. Apenas
ficávamos ao corrente de quem nos ligara na nossa ausência.
A questão que se coloca é que, andando nós sempre com o
telemóvel no bolso, a cada instante ele poderá tocar e nós termos de atender.
Se para mim já é embaraçoso ter de comunicar na presença de estranhos, não
menos embaraçoso me é que os outros o façam a meu lado. Nada é mais irritante,
no meu ponto de vista, do que ter de acompanhar a conversa de alguém ao
telemóvel, num estabelecimento público, numa fila de espera, no comboio, por
incrível que pareça até mesmo na igreja...
Estamos estupidamente a comprometer a nossa privacidade ao
atender chamadas e ter conversas supostamente privadas em público. Eu não tenho
curiosidade nenhuma em relação a conversas alheias, mas sou obrigado a
escutá-las! E o teor de algumas delas oscila entre o ridículo, o trivial, o
romântico e o ordinário... numa total falta de respeito.
Quase como ir no comboio e o par da frente ou de trás ir
constantemente a falar, fazendo-nos testemunhas desse diálogo. Claro que isto
tem uma vantagem do ponto de vista sociológico: é que afinal apercebemo-nos de
que a vida de cada um de nós não se distancia muito e os motes para as
conversas são idênticos: as mães-galinha preocupadas com os filhos, as
conversas entre apaixonados (e todas as conversas de amor, como todas as cartas
de amor, são ridículas. Nós, que as dizemos, não nos apercebemos, mas
apercebem-se as pessoas de fora), as conversas a transpirar virilidade entre
amigos...
Com certeza já se aperceberam do quão esquisito é tudo isto.
Sermos ouvidos nas nossas conversas e ouvirmos as dos outros... E embora haja
gente que gentilmente se afasta de modo a falar mais recatamente ou de modo a
não ouvir as conversas dos outros, também há aqueles que fazem questão de falar
mais alto do que o necessário ao telemóvel ou que, na presença de uma conversa
de outrem, apuram a sua acuidade auditiva até ao limite, para não lhes escapar
pitada... e tantas vezes para dar nas vistas.
Como lhes disse, não diferimos muito uns dos outros nas
conversas que temos, mas isso não quer dizer que abdiquemos da nossa
privacidade e nos expunhamos de forma tão evidente.
Rogério Medeiros
(In, http://poetaromantico.blogspot.pt/2011/08/praga-dos-telemoveis.html)
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