António Costa faz bem em manter o silêncio perante o ataque cerrado de que está a ser alvo por quem não aceita que tenha quebrado o tabú e obtido do secretariado nacional do PS um mandato para dialogar com todos os partidos e, portanto, também com o PCP e o Bloco de Esquerda.
Costa não enganou ninguém, ao contrário do que dizem alguns comentadores, tendo na campanha eleitoral invocado sempre a
sua experiência como presidente da Câmara Municipal de Lisboa em que estabeleceu acordos com esses dois partidos com os resultados que também nunca escondeu.
Qual é então a surpresa?
A hipocrisia de alguns comentários roça a obscenidade! Ouvimos agora a direita, e também jornalistas, afirmarem que o programa do PS é “casável” com o da coligação, quando durante toda a campanha fizeram desse programa o alvo das suas críticas!
Quem esquece os ataques de Portas a Mário Centeno, o coordenador do programa económico socialista, ridicularizando o seu estatuto de académico e acusando-o de cair de pára-quedas no PS? Chama-se a isto desonestidade intelectual!
Mas porque se critica então António Costa? Que se saiba, ele não disse que Passos Coelho não deva ser primeiro-ministro, pelo contrário, estranhou até que este não tenha apresentado propostas para uma negociação com o PS.
Também não se lhe ouviu dizer que quer governar com o PCP e o Bloco ou mesmo chefiar um governo minoritário com apoio destes dois partidos.
Mas é preciso perguntar: e se Passos e Portas não apresentarem uma solução governativa e um programa que o PS possa viabilizar? Pensarão os que criticam António Costa que o País deverá ficar sem governo apesar de existir uma solução alternativa ao governo da direita? Ou acharão que o PS deve apoiar a todo o custo um governo contra cujas políticas se candidatou? Isso sim, seria trair os seus eleitores.
Obviamente que tendo ganho as eleições o PSD e o CDS devem governar se conseguirem apoio maioritário no Parlamento, isto é, se o PS aceitar as suas propostas. Mas isso não impede que o PS estabeleça conversações com os partidos à sua esquerda porque ainda cabe ao Parlamento aprovar leis e escrutinar os actos do governo.
E, na vertente parlamentar, não faltarão iniciativas que necessitarão dos votos
da esquerda.
O pavor que se instalou no comentarismo nacional só porque António Costa, como sempre afirmou, procura entendimentos com o PCP e o Bloco, é um autêntico PREC de direita que visa chantagear António Costa e o PS.
Pelos vistos, alguns membros destacados do PS também se afligem e amedrontam por o seu secretário-geral ter rompido, ao menos teoricamente, com a exclusividade do diálogo do PS com os partidos à sua direita! Tenham calma e deixem Costa trabalhar!
Publicado em Outubro 11, 2015 por Estrela Serrano
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