2010/03/25

VAMOS AO TEATRO!!?

Mais propriamente – à tragédia quase grega!

Cenário obscuro de luzes ténues e amarelecidas.

O côro virtual entoa um cântico funesto e irritante.

A escassa audiência admira já enfastiada pela demora.

O pano sobe va ga ro sa men te.

A tragédia já começou ainda antes de ter sido escrita:


I Acto


Entram os actores. Na sala semi-obscura, onde me encontro eis que alguém bate vertiginosamente à minha porta.

Sem medos nem receios, simplesmente fui abrir.

Eis que surge em túnica cinzenta e incaracterística, máscara hedionda no rosto – a indiferença.

É seguida por outra criatura sinistra trajada a perceito, entre a túnica e o esfregão, que da sua máscara branca e polida, de boca entreaberta, lábios grossos e negros, num esgar entre o sorriso complacente e a careta de escárnio que me olha fascinada, com olhos negros e, esticando o seu braço direito, me aponta intimidatoriamente a alva mão – eis o cansaço.

O cansaço e a indiferença,

(ideia porque ninguém passa);

decidiram as duas juntas

mudar-se pr’a minha casa!

Acomodaram-se de armas e bagagens, e do meu refúgio quotidiano, tudo devassaram. Entre diálogos ruidosos de críticas e ameaças, surgiram novas ideias, pr’a silêncios e muitas faltas. Falta de sorte e de palavras, de vontades e de alguma esperança, que de minuto em minuto se desvaneciam no ar, qual fumo inebriante que se esvaia por entre os dedos das mãos trémulas de intenso nervosismo.

Sentado ao largo, numa cadeira dura como as pedras duras da rua onde habito, olho-as estupefacto e incrédulo; interrogo-me e ouso questionar as invasoras, na busca incessante de diálogos construtivos:

Quem sois vós que ousais entrar

sem convite ou apresentação,

nos meus domínios morar,

quem vos deu autorização?

Indiferentes à questão que o cansaço ignorou, à pergunta criticou a sua amiga indiferença que refastelada no sofá olhava a TV, que abruptamente deixou de emitir qualquer imagem e som. E lá se foi também o vídeo e o leitor de DVD’s. Ali ficou a contemplar o écran vazio, a cassete que não saiu, o disco que não rodou, como se conseguisse discernir fosse que fosse naquela amálgama de tralha de marca que estupidamente também se estraga.

(Continua)

João Belém

2010-03-24

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