Nas páginas da História a ser escrita, far-se-á o registo de um Presidente da República que suportou, até ao limite, a actuação de um Governo que falhou em tudo aquilo que definiu como essencial.
Um PR que, quando era expectável que desse posse a um Executivo reconfigurado, juntou mais humilhação ao rol das perpetuadas ao primeiro-ministro, ignorando, na sua comunicação ao País, a solução apresentada por este último, numa semana de irrevogabilidades precárias.
Nas páginas da História a ser escrita, o PR virá descrito como o agente político que abdicou de ser mediador (discurso das cerimónias do 25 de Abril), mas que não se inibe de pedir o impossível aos outros: colocar o PS numa jangada cuja direcção este nega há dois anos. Nas páginas da História a ser escrita, far-se-á o acervo dos prenúncios do PR: o partido que se colocar fora destas negociações, será objecto de demonização quando/se eleições forem convocadas em 2013.
A salvação nacional foi tentada; os partidos e os políticos, a classe a quem nunca quer ser associado, são os responsáveis por esta capitulação, à qual bem tentou opor-se. O PS negoceia, por isso, à direita, só podendo almejar um acordo vago e sem medidas concretas (a única maneira antecipável de convergência). Negoceia, também, à esquerda, com o BE. Justifica o afã com o sentido de responsabilidade exigido pelo PR, apostando na disponibilidade para apenas ouvir - e assim sendo, não há razão para não conversar com todos.
Nesta óptica, as reuniões à esquerda e à direita não comprometem coisa alguma. Mas mais tarde ou mais cedo, o PS sabe que, parafraseando Aneurin Bevan, vai ter de sair do meio da estrada, sob pena de ser atropelado. É que nas páginas da História que já foi escrita, "a direita" é pragmática, porque se une para formar governo, autodestruindo-se a posteriori, em exercício de funções. E a esquerda, tida por menos pragmática, armadilha-se por entre certificações de "patriótica" ou "verdadeira", destruindo convergências a priori.
Ana Martins, Psicóloga, docente e investigadora
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