1 - Quem conhece a festa do Natal?
Pelo menos, dois biliões de pessoas celebram a festa do Natal. Mas, nos velhos países cristãos, um certo número já não sabe o que ela é. Outros, como os Chineses, ainda não sabem o que significa o Natal, mas já o celebram por ser uma festa pela qual eles entram na cultura mundial.
O Natal é a festa do nascimento de Jesus, em Belém, na Palestina, há cerca de 2000 anos.
Os Evangelhos são quatro pequenos livros escritos por discípulos de Jesus Cristo depois da sua morte na Cruz e da sua Ressurreição (ver "Jesus é histórico?") para darem a conhecer a sua vida e a sua mensagem.
Dois dos evangelhos só falam de Jesus Cristo a partir da idade de trinta anos, quando ele começou a anunciar a "boa nova" (em grego: "evangelion") do Reino de Deus. Os dois outros, o evangelho de S. Lucas e de S. Mateus, contam o Nascimento e a Infância de Jesus. Neles aprendemos que:
- Jesus nasceu em Belém "no tempo do rei Herodes" e que Maria, a sua mãe, o deitou numa mangedoura porque não havia lugar na hospedaria.- Durante a noite, aparecem anjos aos pastores das redondezas e anunciam-lhes o nascimento do Menino, que é o Salvador, o Messias Senhor. Cantam: "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que Ele ama". E os pastores vão adorá-lo, primeiro que qualquer outra pessoa.
- À vista de uma estrela, uns Magos do Oriente (a quem mais tarde se há-se chamar "os reis magos") põem-se a caminho de Jerusalém e perguntam ao rei Herodes: "Onde é que está o rei dos Judeus que acaba de nascer?"
Herodes consulta os sábios judeus que indicam Belém. Os magos vão adorar o Menino, guiados pela estrela. Herodes quer mandá-lo matar e ordena o massacre das crianças de Belém com menos de dois anos: são os "santos inocentes". Mas a Sagrada Família já tinha partido: é a "Fuga para o Egipto" (ilustrada por numerosos pintores, entre os quais Giotto).
3 - Qual é o sentido da festa do Natal?
"Já nasceu o Deus Menino" - estas palavras estão na letra de uma canção tradicional do Natal que exprime o sentido profundo do acontecimento e o seu aspecto inaudito: há cerca de 2000 anos que os homens reconheceram, no Menino de Belém, Deus que se fez homem e, até, menino para vir ao nosso encontro. Aquele a quem os filósofos chamam o Primeiro Motor (Aristóteles), o Todo-Poderoso, aquele que é o "Todo-Outro" faz-se no Natal o Deus-Menino. Esta é a estranha e admirável imagem que Deus nos quer dar de si mesmo quando vem ao mundo: o Criador do mundo apresenta-se como um pequenino, um pobre sedento de amor.
Compreende-se porque é que o Natal se tornou pouco a pouco, ao longo dos séculos, a festa maravilhosa dos humildes, a festa do Salvador do Mundo que veio como um menino enquanto, até aí, se esperava Deus no trovão e nos relâmpagos, com Majestade e num trono de juiz. Será esse mesmo Jesus que, mais tarde, dirá nos caminhos da Palestina:
"Eu te bendigo, Pai,
Senhor do Céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes
e as revelaste aos pequeninos"
(Lucas, 10, 21).
E como não havia de brotar esta alegria profunda no coração do homem, no momento em que ele descobre que Jesus é o filho de Deus e que este Menino nos faz entrar também na família de Deus?
O maravilhoso do acontecimento do Natal foi acolhido pela consciência popular ao longo dos séculos, tal como o testemunham a liturgia antiga, os contos de Natal e os cânticos desta época festiva. Mas, na sua pequenez, hoje, tal como há 2000 anos, o menino do presépio não nos obriga a nada: livres perante a tradição, livres perante o evangelho, é a cada um de nós que cabe ponderar pessoalmente esta proposta - reconhecer Deus que vem até nós como filho dos homens.
Com muita imaginação, se a tivermos, e com o desejo de dar o Natal aos outros: a paz e a alegria, a atenção aos pobres e aos isolados, os presentes às crianças que puserem, segundo a tradição, o sapatinho na chaminé.
O Presépio é uma reprodução do estábulo ou da gruta de Belém. Mais abaixo voltaremos a este assunto, depois de explicarmos a tradição do "Pai Natal". O "Pai Natal" é uma tradição cristã do norte da Europa em que se dão presentes no dia de S. Nicolau. É preciso um trenó para S. Nicolau poder transportar todos os presentes das crianças. S. Nicolau tornou-se esse velho a quem se chama "Pai Natal" na recente tradição...
S. Nicolau é um santo comum aos católicos e aos ortodoxos e a sua história é feita de idas e vindas entre o Oriente e o Ocidente. A cidade de Bari, no sul da Itália, para onde as suas relíquias teriam sido levadas a partir da Ásia Menor, tornou-se um centro ecuménico importante na relação entre ortodoxos e católicos.
O Presépio é uma tradição que remonta ao século IV, segundo pinturas e esculturas dessa época. Hoje ainda, para as crianças, festejar o Natal implica um Presépio, com a vaca e o burro, Maria e José (o pai legal e adoptivo de Jesus, que nasceu da Virgem Maria), os pastores e as ovelhas: é neste enquadramento que elas acolhem o mistério maravilhoso do Natal. Alguns países são célebres pelos seus presépios e associam as figuras tradicionais ao povo que, com os seus ofícios, acolhe o Natal. No sul da Itália, um presépio pode ser mesmo a obra de uma vida inteira, com campos, colinas e montanhas e centenas de personagens.
No Natal, ouvem-se cânticos tradicionais. Através desses poemas que o povo canta, percebe-se imediatamente a forma como a gente simples acolheu, no seu humilde nascimento, todo um mistério de eternidade, tal como o fizeram os pastores de Belém. Os compositores desses cânticos de Natal, nossos antepassados, dão testemunho da abertura da sua alma e ajudam-nos a compreender, porque eles o compreenderam, aquilo que Deus diz de si mesmo quando se nos apresenta no estábulo de Belém.
E a missa do galo? Porque não? E, depois, a ceia... Numa ceia sem missa do galo, há qualquer coisa que falta: a abertura a uma alegria e a uma esperança que nos ultrapassam.
Antigamente, para a refeição do Natal, guardava-se à mesa "o lugar do pobre". Há sempre pobres, velhos e abandonados, por vezes bem perto de nós. A alegria do Natal pode nascer de dar e receber.
5 - O que é a estrela dos Reis Magos?
As tradições populares sempre gostaram muito dos Magos e transformaram-nos em "Reis Magos". Os puristas, os exegetas criticaram a base desta tradição, dizendo que se tratava de um "midrash" (narrativa alusiva e simbólica da cultura hebraica). Hoje considera-se que esta narrativa poderá estar muito mais próxima da história do que já se acreditou e, entre os astrónomos modernos, ela é mesmo objecto de investigações aprofundadas... e calorosas. Com efeito, naquele tempo os astrólogos dominavam todo um sistema de referências de estrelas e constelações a pessoas e a povos e estamos bem informados acerca das hipóteses que eles poderiam ter formulado a propósito de um rei dos Judeus.
Quanto a considerar os magos como reis, a tradição popular não é assim tão idiota: hoje em dia, um Prémio Nobel das ciências é tão respeitado como um rei.. Investigadores cristãos e até agnósticos seguem muitas vezes as pisadas dos magos do ano 1 da nossa era: para se sentirem mais livres em relação a qualquer dependência das suas próprias ideias, o que poderia prejudicar as suas investigações, vêm depor aos pés do Menino do Natal os seus trabalhos e as suas esperanças. O grande Pasteur fazia algo parecido quando dava graças a Deus por cada uma das suas descobertas.
Não é historicamente certo que a data de 25 de Dezembro tenha sido inicialmente escolhida pelo seu simbolismo em relação ao renascimento da luz - que, no entanto, conviria tão bem ao nascimento de Jesus Cristo, o Salvador. O cântico profético de Zacarias, pai de João Baptista, aquele que havia de ser o último profeta do Antigo Testamento, aquele que iria reconhecer o Messias, anuncia "o astro nascente vindo do alto". E o prólogo magnífico do evangelho de S. João diz do Filho que ele é "a luz verdadeira que ilumina todo o homem". Mas, na prática, foi porque antes se tinha fixado no dia 25 de Março a festa da Anunciação, quer dizer, a Concepção virginal de Jesus, que muito naturalmente se decidiu festejar o nascimento nove meses depois.
É no século IV, por volta de 340, após três séculos de perseguições, que as festas cristãs vão poder desenvolver-se em locais exteriores. Por esta altura, com a festa litúrgica do Natal, aparecem as representações do presépio, com a vaca e o burro, os pastores, a estrela e os magos. O primeiro sermão do Natal que se conserva é um sermão de Optato de Milevo, um bispo do Norte de África, datado de 368.
Por esta altura, a celebração do "sol invictus", quer dizer, do solstício do Inverno, ligada em particular ao culto do deus Mitra, estava a perder influência. Então a Igreja, que nunca rejeitou nada que fosse belo e verdadeiro na cultura pagã, fez renascer a festa e como que deu título de nobreza ao símbolo do sol que, no solstício do Inverno, começa a crescer no céu. Contrariamente a uma opinião inutilmente agressiva, o cristianismo não é um nivelador de culturas: tal como no caso do solstício do Inverno, ele foi e será muitas vezes capaz de dar um sentido definitivo às mais belas intuições do homem.
Jean Loguevel.
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