2010/11/16

Desassossegos I


Há umas luas a esta parte que um imenso e misterioso vazio habita na minh'alma turvando-me a visão de tudo o que me rodeia. Afigura-se-me como uma áurea repleta de iões negativos que tudo atraem, claro está, que do lado negro das coisas e das lousas, já quebradas e gastas pelos excessivos atritos e desgaste. É tão insistente que identifico claramente a personificação de um ser malévolo, qual Darth Vader qualquer, mas este mais pequeno que o do filme, de indumentária azulada e com o seu sabre de luz azul assobiando a música abafada e quase imperceptível do Hino dos Super Dragões. Que pesadelo!!!
Posso claramente classificar esta fase de negra e repleta de contrariedades, afogadas quase sempre em infusões, proporcionando distúrbios neuróticos e toda uma espécie de sujidade encardida que se acumula na minha pele e nos meus órgãos internos, quase liquefeitos, que mesmo lavados com coca cola nada de bom vislumbram, tal qual uma tatuagem marcada a ferro quente, impossível de retirar, cujos imperceptíveis traços, só se desvanecerão quando a vida veloz despistar o corpo e desmantelar irremediavelmente a matéria. Na alma ficará um mero template gravado para experiências cibernéticas em 4D numa galáxia longínqua a anos-luz da minha morada celestial.
Esta lacuna imperceptível provoca em mim um transparecer de atitudes estáticas de uma inoperância total que me incomoda e me rala o ser, que se apresenta, aos olhos dos outros, taciturno e inconstante, indiferente ao quotidiano dinâmico e acelerado que nos enlaça, segundo a segundo. Aparente realidade. Bem no fundo de mim, algo se agita ainda e me torna sensível e atento ao que dentro de mim se encerra.
Ainda sinto.
Um inexplicável tropôr de inúmeros nadas, que me dilaceram a cada dia e que contrariam radicalmente aquilo que outrora era, me alucinam numa vaga imagem de saudade duma qualquer época irreverente e transbordante de dinâmicas atitudes, vontades, quereres e fazeres.
A antiga nuvem negra que estúpida e teimosamente sobrevoava a minha cabeça, voltou.
Avoluma-se de novo, numa cor escarlate raiada, aqui e ali com traços negros como barras numa rede bem armada e preparada para manipular.
Cada dia sinto mais um bichinho corrosivo que me olha de soslaio ali ao fundo e me convida a visitar outra dimensão, que não a nossa - loucura intrépida que me tentas.
Rejeito-a veementemente.
O verdete dos anos já se avista, qual pilha abruptamente descarregada e viciosamente recarregada com carga negativa e que a pouco e pouco, se vai abrindo, pelas inúmeras pressões, descarregando doses industriais de ácidos e sais contaminantes.
Quando me preparava finalmente para afastar os trapos e escancarar de par em par o véu que cobria o rosto deste vil ser que me persegue e me arrasa com insinuações e fumos fétidos de poeira cósmica e degradante, eis que um relâmpago de luz intensa e imperceptível me fez recuar e estacar. Tapei os olhos encandeado e surpreso.
O Sol ia alto - era manhã.
O relógio tocava, alto e bom som - levantar era ordem.
O pesadelo terminara.
Outro dia começava.
Aturdido com todos os acontecimentos nocturnos, o raiar da manhã outras promessas e sensações me trairiam. O hábito rotineiro do trabalho esperava-me; estava ansioso por começar.
Mas ao olhar o calendário do telemóvel - nova sensação, nova desilusão.
Era Domingo..

Foto: (In, http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://i2.photobucket.com/albums/y10/ameliapais/desassossegos/socorro.jpg&imgrefurl=http://barcosflores.blogspot.com/2008_10_01_archive.html&usg=__b3nO1gle57RCfALOYXZxN9WQwGE=&h=264&w=300&sz=29&hl=pt-pt&start=0&sig2=vkKpGsGIkgT4s7FRXmAN1A&zoom=1&tbnid=_YaFjZMq8iMYAM:&tbnh=161&tbnw=183&ei=8tnhTKydFYq2hAf3wt3hDA&prev=/images%3Fq%3Ddesassossegos%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1272%26bih%3D811%26tbs%3Disch:10%2C306&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=160&vpy=132&dur=664&hovh=210&hovw=238&tx=126&ty=100&oei=8tnhTKydFYq2hAf3wt3hDA&esq=1&page=1&ndsp=21&ved=1t:429,r:11,s:0&biw=1272&bih=811)


João Belém
2010-11-16

Sem comentários: