Escorro. Corro. Subo uma escada. Tropeço e caio. Cada curva da estrada um horizonte que não vemos. Meu coração se desmancha de tanto sentir, e agrava seu caso por entupir o espaço com tempo. Cada palmo de terra tem vísceras cheirosas e uns canais de comunicação por onde trafegam sonhos. Alados ou mal cheirosos. Sem fome e com o estômago a fogo, uma chama de ferreiro cego que forja arma torta.
Destruo uma poesia sem limite pra calcinar minhas retinas coloridas. Esterco de gente. Quero florescer pelo caminho entregando meu valor à velocidade parada. Sentir e compreender que o amor e a vida tão atrelados como o céu à terra, e saber que o céu da boca pode ser também a terra do pé. O topo da cabeça é como o tempo que temos entranhado num relógio de horas imprevistas; um vômito desmedido com fragmentos do que sinto e minha indiscreta. Dor. Não sei onde.
Não sei tampouco a hora de ir dormir e acordo cedo como um cão. Coço minha bunda e sigo traçando. Encapsulado em pensamentos vagos como apostar em cavalos; na hora laranja termina uma pérola inalcançável, retinta como um sufoco que não se põe em palavras. Alguma contradição cheia de beleza manchando uma manhã que marcha nas entrelinhas. Como um deslizar vago e suave. Como uma aurora discreta. Como um amanhecer desconhecido. Um tapa na cara para abandonar a melancolia barata de quem quer eleger o seu sofrimento como a coisa mais importante dentre todas as coisas, a única coisa que existe, uma caldeira a ser alimentada para sempre. Dormindo no arame farpado.
Joguei fogo nos dromedários do meu sono. Caminhei com eles sem água por um deserto interminável, inexplicável, impenetrável. Soco nos dentes. Uma surra da consciência, um cheiro de memória, uma vaga explicação perdida nos itinerários da mente. Ser indiscreto, alienado e impreciso. Inexplicável. Tenso e inadequado ao corpo. Negativo. Um sol na cabeça trôpega que ilumina as curvas do vento. Indiscreto. Agressivo, passivo, pacífico, violento. Amarrado a uma maca de mistérios. Muito mais do que sabemos, muito mais ainda do que a palavra alcança, preciso e inexato. Temerário.
Janeiro 25, 2009 por capiteo
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